Do eterno no homem
- Fernando San Gregorio

- 14 de out.
- 2 min de leitura

Publicado originalmente em 1921, O Eterno no Homem (Vom Ewigen im Menschen) é uma das obras mais significativas da fase cristã de Max Scheler — filósofo alemão ligado à fenomenologia, discípulo de Husserl e profundo crítico do racionalismo moderno. Nesse livro, Scheler procura articular uma filosofia religiosa que reconcilie a experiência humana do sagrado com a racionalidade filosófica, mostrando que o homem possui uma abertura constitutiva para o eterno.
1. Contexto e propósito
Após um período marcado pelo vitalismo e por uma ética dos valores, Scheler retorna neste livro à reflexão sobre Deus, a pessoa e o espírito, buscando compreender como o absoluto se manifesta no interior da experiência humana. O livro surge como uma resposta ao niilismo e ao relativismo modernos, que, segundo Scheler, haviam reduzido o homem a um ser meramente biológico ou racional, esquecendo sua dimensão espiritual.
2. Estrutura e conteúdo
A obra é composta por ensaios que se articulam em torno de uma questão central:
Como o homem pode experimentar o eterno em sua existência temporal?
Entre os temas abordados, destacam-se:
A distinção entre o “espírito” (Geist) e a vida psíquica;
A noção de pessoa como centro espiritual e portadora de valores;
A experiência religiosa como ato originário, anterior às formulações teológicas ou institucionais;
O papel do amor como via de acesso ao absoluto;
A relação entre fé e razão, e entre revelação e filosofia.
Scheler argumenta que o homem, por meio do espírito, é capaz de intuir valores eternos — como o bem, o verdadeiro e o santo —, e que essa capacidade revela uma participação do humano no divino.
3. A dimensão teológica
Em O Eterno no Homem, Scheler aproxima-se do cristianismo, sem abandonar sua metodologia fenomenológica. Ele não pretende “provar” a existência de Deus, mas mostrar fenomenologicamente como a presença de Deus é dada na experiência humana. O eterno, portanto, não é algo distante ou metafísico no sentido abstrato, mas se manifesta na interioridade da pessoa.
4. Importância e legado
Essa obra marca a transição de Scheler para uma antropologia espiritual, influenciando fortemente a filosofia cristã do século XX — notadamente pensadores como Karol Wojtyła (São João Paulo II) e Dietrich von Hildebrand. Ela se destaca como uma das tentativas mais profundas de unir fenomenologia, metafísica e fé cristã.
5. Ideia central resumida
O homem é um ser espiritual aberto ao infinito; nele habita uma dimensão eterna que o coloca em relação direta com Deus.





Comentários