AS ESCOLAS HERMENÊUTICAS
- Fernando San Gregorio

- 28 de abr de 2022
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A palavra “hermenêutica” deriva do vocábulo grego que significa “interpretar”. A definição tradicional da palavra é “ciência que define os princípios ou métodos para a interpretação do significado dado por um autor específico”. (OSBORNE, 2009, p. 25), portanto, a subjetividade do autor identificada objetivamente por um referente, a saber o significado apontado na própria realidade.
A hermenêutica se propõe a indicar os meios, regras e métodos para a identificação do sentido/significado proposto por um autor, este significado conforme vai se distanciando de nosso tempo exige mais do leitor para que este busque com eficácia o que fora proposto pelo autor, há barreiras que formam desafios nesta empreitada, a saber; a cultura vigente, o idioma, a geografia entre outros elementos alguns identificáveis, outros nem tanto. A Hermenêutica pode se caracterizar como ciência porque propõe técnicas que melhor auxiliam o leitor a traspassar estas barreiras conforme supracitado.
Em nosso tempo com técnicas para o revisionismo histórico, avanços na produção linguística, de fato houve um desenvolvimento que reduz muito sobre toda a contextualização de uma produção literária, não obstante, as escolas modernas de hermenêuticas assumiram um problema talvez indissolúvel a supressão do “referente”.
O referente é a designação na própria realidade a que se refere um determinado signo. Entre estes temos o significado que é o conjunto de vários signos. Se não identificamos o que o signo propõe estamos na esfera ideal se, portanto, identificamos seu referente estamos na esfera real. A palavra cachorro é um signo, a definição de cachorro contém seu significado e o cachorro mesmo é o referente.
Os hagiógrafos, inspirados pelo Espírito Santo, também se comunicaram assim tendo em vista a comunicação plenária e prescritiva apontada em caráter divino, portanto, quando um sacro escritor elencou em sua mente um signo "Espírito Santo”, pretendia a partir daí definir seu significado “Espírito Santo” apontando certamente para uma realidade “Espírito Santo”, subtraindo o referente do proposto teremos uma variedade sem fim de elementos apontados por um signo. Assim a hermenêutica que constrói seu método a partir do receptor da mensagem, de uma comunidade de receptores, construirá tantos significados quanto pode discorrer a imaginação humana, se perdendo do objeto proposto.
O conjunto de signos a saber seu significado proposto por uma diversidade no imaginário dos homens começa produzir outra coisa que não, a coisa mesma, perde de vista o caráter inalterável e absoluto da mensagem para produção de constructos subjacentes, e de caráter individual, por fim o senso comum será o mais atingido, uma vez, que o desenvolvimento dos signos proposto para correlação com a realidade fora desenvolvido de modo ambíguo pela geração que desenvolveu seus significados, ora isto gera alienação no senso comum, pois não se sabe mais exatamente ao que se refere determinado signo. Em nosso caso "Espírito Santo”.
De forma simplificada, mas não simplista, podemos entender que, em geral, esta é a divisão das escolas, em suas diversas camadas internas. Na hermenêutica cristã e mais diretamente na interpretação pentecostal com ênfase no Espírito Santo também observamos este fenômeno nas três principais escolas.
Segundo o pastor Silas Daniel a escola de Birmingham do pentecostalismo europeu, tendo como principal centro de produção teológica a Universidade de Birmingham, na Inglaterra. suas principais diferenças são uma maior intersecção do conhecimento e sua inclinação ao ecumenismo. A Escola de Cleveland, no que lhe concerne, tem como sua principal referência a Igreja de Deus em Cleveland, Tennessee, onde se encontra também a principal faculdade teológica dessa denominação nos EUA. a proposta de uma hermenêutica distinta das adotadas pelo evangelicalismo. A Escola de Springfield, que tem como sua principal referência a Assembleia de Deus (Springfield é onde fica a faculdade teológica e a sede da denominação nos EUA), pode ser definida, nas palavras de Smith, como “o evangelicalismo com ênfase especial na pneumatologia”.
As escolas de Birmingham, e de Cleveland tem a tendência hermenêutica de produzir significado a partir do receptor da mensagem, acarretando problemas da supressão do referente, visto que este não é identificado para produção de uma “práxis”, mas se tem um relativo pragmático para produção de infindáveis realidades. A Escola de Springfield parece ter uma proposta mais saudável dado que intenta perceber a intenção dada pelo autor para produção da mensagem.
Destarte, concordo com o pastor Altair Germano quando diz “Vou direto ao ponto. Não existe, como alguns afirmam, uma “hermenêutica pentecostal” (ciência hermenêutica pentecostal), e sim pentecostais que usam métodos hermenêuticos já disponíveis”, se admitirmos pressupostos para produção de sentidos, teremos de aceitar as diversas “hermenêuticas como produtoras de sentido, a dos homossexuais, dos negros, das mulheres, dos pobres, dos grupos minoritários que no final de contas estão todos produzindo “eisegesis”.
Há uma realidade em que se debruçaram os escritores santos, o papel da hermenêutica é cavar até encontrar não produzindo sentidos, mas identificando-os, esta realidade é tão somente Nosso Senhor Jesus Cristo.
Referências
GERMANO, Altair. Interpretando as narrativas bíblicas. Editora Santorini, Joinville – Santa Catarina, 2019.
OSBORNE, Grant. A Espiral Hermenêutica: Uma Nova Abordagem à Interpretação Bíblica [Trad. Daniel de Oliveira, Robinson N. Malkomes, Sueli da Silva Saraiva]. São Paulo: Vida Nova, 2009.
GERMANO, Altair. Existe uma Hermenêutica Pentecostal?. Blog do Pr. Altair Germano, 2020. Disponível em: <http://altairgermano.com.br/existe-uma-hermeneutica-pentecostal/>. Acesso em: 18/05/2022.




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