Cosmovisão
- Fernando San Gregorio
- 12 de set. de 2024
- 2 min de leitura

Podemos iniciar com uma definição preliminar do conceito de cosmovisão. Este termo é composto por dois elementos de origem grega: Kosmos, que significa "mundo", e theoria, que se refere a "visão" ou "leitura". Assim, cosmovisão pode ser compreendida como uma forma específica de enxergar o mundo, uma interpretação da realidade que nos cerca.
A cosmovisão, apesar de não ser um conceito estritamente teológico, possui raízes filosóficas. Atribui-se a Immanuel Kant o primeiro uso deste termo. No contexto da filosofia crítica alemã do século XVIII, a noção de cosmovisão surgiu como uma forma de compreender o papel ativo do sujeito no processo de conhecimento.
Até o século XVIII, a teoria epistemológica predominante sustentava que o conhecimento ocorria de maneira direta, sem a necessidade de mediação. Tal visão era especialmente influenciada por John Locke, que postulava a mente humana como uma tábula rasa, ou seja, uma folha em branco sobre a qual os sentidos imprimiam os objetos do conhecimento por meio do contato direto.
Contudo, conforme observado por Filipe Fontes, no ambiente filosófico alemão começou-se a questionar a razão pela qual diferentes sujeitos, ao se depararem com o mesmo objeto ou fato, apresentavam interpretações distintas. Isso levou à hipótese de que existiria uma estrutura intermediária entre o sujeito e o objeto, o que resultaria em um conhecimento mediado, e não imediato. Tal estrutura seria a cosmovisão.
Fontes afirma que "a nossa interioridade não é uma folha em branco, existe algo que se interpõe entre o sujeito e o objeto do conhecimento, determinando a forma como o sujeito apreende este objeto". Nesse sentido, a cosmovisão atua como uma lente por meio da qual a realidade é percebida e interpretada. As nossas ações e reações não são respostas diretas aos fatos, mas sim interpretações destes.
James W. Sire contribui para esse entendimento ao definir a cosmovisão como um "compromisso, uma orientação fundamental do coração, que pode ser expressa como uma narrativa ou um conjunto de pressuposições – sejam elas verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou inteiramente falsas – que mantemos (consciente ou inconscientemente, de forma consistente ou inconsistente) sobre a constituição básica da realidade, e que serve de fundamento para a nossa vida, movimento e existência".
De acordo com essa perspectiva, uma cosmovisão não é apenas um conjunto de ideias, mas uma lente religiosa por meio da qual o mundo é interpretado. Em termos amplos, poderíamos afirmar que existem essencialmente duas grandes cosmovisões: o teísmo cristão e o ateísmo, com as demais visões de mundo derivando dessas duas vertentes.
Finalmente, podemos avançar na definição de cosmovisão como sendo a crença fundamental, radical ou mais profunda que molda a nossa vida, determinando a forma como interpretamos e agimos no mundo. Nossas ações externas são, em última análise, manifestações concretas de nossa visão de mundo. A cultura, por sua vez, pode ser vista como a materialização de uma cosmovisão majoritária, constituindo a lente coletiva através da qual uma sociedade enxerga e interpreta a realidade.
Referências:
DOOYEWEERD, Herman. Raízes da cultura ocidental. Tradução de João Paulo de Oliveira. São Paulo: Cultura Cristã, 2024.
FONTES, Filipe. Cosmovisão - Conceito e Definição. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1sjYNV5umWg&t=3385s. Acesso em: 12 set. 2024.
FONTES, Filipe. Fundamentos da Educação Cristã. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xuh6FPJhKvg&t=672s. Acesso em: 12 set. 2024.
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